Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Sex | 12.12.14

TAP - Take another plane

tap.png

Os sindicatos que representam os trabalhadores da TAP decidiram avançar com uma greve de quatro dias, entre 27 e 30 de Dezembro. Num comunicado conjunto, a plataforma que reúne os 12 sindicatos da TAP referiu que a greve tem como objetivo «sensibilizar o Governo para a necessidade de travar o processo de privatização».

A TAP sempre foi uma empresa aliciante, onde muitos trabalhadores portugueses gostariam de trabalhar, não apenas porque pratica salários muito acima da média nacional, mas também porque tem um pacote de regalias e benesses que a tornam muito apetecível.

A privatização da transportadora portuguesa não foi uma decisão deste governo. Há muito tempo que se houve falar da venda da TAP. Enquanto muitas companhias de aviações fecharam as portas ou foram forçadas a recorrer a despedimentos coletivos; enquanto os funcionários públicos portugueses perderam poder de compra e alguns deles foram para o quadro de mobilidade; enquanto os contribuintes conheceram cortes brutais nos seus salários; enquanto muitos portugueses conheceram o desemprego provocado pela mesma crise que afeta a companhia de aviação, a TAP tem sobrevivido imaculada à custa do dinheiro dos contribuintes, é bom que se diga.

Mas isso pouco importa aos trabalhadores da TAP. Pouco lhes importa que estes quatro dias de greve signifiquem um prejuízo de mais de 38 milhões de euros para a empresa; pouco lhes importa que a o setor do turismo seja afetado com valores astronómicos da ordem dos 144 milhões de euros; pouco lhes importa que a greve agendada para o período entre o Natal e o Ano Novo vá prejudicar milhares de portugueses que pretendem passar o Natal com as suas famílias; pouco lhes importa que uma boa parte dos seus empregos e das suas regalias sejam mantidos graças aos contribuintes; pouco lhes importa que a empresa tenha conseguido manter-se mesmo num ambiente económico mundial adverso. E pouco lhes importa, porque sabem de antemão que, ao contrário das outras companhias de aviação e de outras empresas privadas, a TAP, por maiores prejuízos que tenha de suportar, está ligada à máquina do orçamento de Estado.

Talvez esteja na altura de explicar aos sindicatos e aos trabalhadores da TAP que os recursos do país são escassos, que há uma crise económica, que o Estado tem enfrentado dificuldades financeiras que têm sido superadas com enormes sacrifícios dos portugueses; que a TAP precisa desesperadamente de ser recapitalizada, e as regras de concorrência europeias impedem o Estado de injetar dinheiro na empresa e que por isso urge avançar com o processo de privatização, ponto final.

Porque entre os interesses dos trabalhadores da TAP e os do país, obviamente os do último prevalecem.

1 comentário

Comentar post