Times they are a changing
As eleições na Grécia marcaram um tempo de mudança que está a contagiar outros países europeus.
Em Espanha, cavalgando a onda grega, cerca de cem mil espanhóis participaram, em Madrid, na emblemática Puerta del Sol na «marcha da mudança» convocada pelo «Podemos».
A marcha do "Podemos" de ontem em Espanha não foi um mero comício partidário. O partido de Pablo Iglésias assume-se como uma verdadeira alternativa política ao Partido Popular, no poder, com vista às eleições gerais, previstas para o fim do ano.O "Podemos" tenta cativar os espanhóis com algumas bandeiras: o referendo sobre a independência da Catalunha e a saída da Espanha da NATO, além de estar naturalmente contra a atual política europeia.
Há diferenças entre o Podemos e o Syriza, mas ambos têm um denominador comum: representam a base do movimento anti austeridade que ganha ímpeto na Europa, mais ligada à insatisfação popular com os governos vigentes e o clamor por uma mudança imediata. Essa frustração que grassa em Espanha é o pilar do crescimento vertiginoso do “Podemos”. Mergulhada numa crise económica que já dura há seis anos e com quase um quarto da população a viver o drama do desemprego, Espanha pode muito bem ser o próximo país, depois da Grécia, a eleger uma alternativa de extrema-esquerda.
Mas se a curto prazo a vitória do Syriza na Grécia dá uma injeção de ânimo a Pablo Iglesias e ao Podemos, os espanhóis terão quase um ano inteiro para acompanhar de perto os passos de Alexis Tsipras e do Syriza à frente do governo grego. Sendo certo que o sucesso do projeto anti austeridade grego pode ter uma influência positiva nas ambições da extrema-esquerda espanhola, um fracasso pode ter um efeito devastador.
Em Portugal o Syriza não se assemelha em nenhum partido do espetro político nacional. Qualquer semelhança entre o BE e o Syriza é pura coincidência. A força do Syriza é a imagem do seu líder: não é uma força ideológica, é uma força carismática personificada em Alex Tsipras. O BE é um conjunto de forças de extrema-esquerda que se uniram como partido de protesto com algumas ideias interessantes e inovadoras, mas que atualmente atravessa uma crise de liderança. O Bloco, como se sabe, após a saída de Louçã, começou em decadência. Hoje não tem uma liderança forte, fala a várias vozes (seis) – e, ao contrário do Syriza (cujas intenções de voto e popularidade foi crescendo), o Bloco de Esquerda encontra-se em queda vertiginosa, em termos de popularidade e intenções de voto.