Tragédia do Meco, um ano depois
Hoje, dia 15 de dezembro, faz precisamente um ano que seis estudantes da Universidade Lusófona perderam a vida depois de terem sido arrastados por uma onda, na praia do Meco.
Um ano depois os familiares das vítimas continuam a questionar se as mortes ocorreram em contexto de uma praxe académica, e se houve um envolvimento direto de João Gouveia, o dux da Lusófona e único sobrevivente da tragédia, nos acontecimentos. Uma hipótese que o Ministério Público recusou quando arquivou o inquérito, em julho, mas que os pais insistem por entenderem existir várias contradições nas conclusões da investigação.
A possibilidade de o acidente ter ocorrido durante um cenário de praxe foi abordada logo nos primeiros dias que se seguiram à tragédia. Os jovens tinham sido vistos a ir para a praia vestidos com o traje académico e sabia-se que nessa noite apenas João Gouveia teria levado o telemóvel consigo.
Várias testemunhas da localidade de Aiana de Cima, em Sesimbra, onde os estudantes estavam alojados, foram ouvidas pelo MP e asseguraram ter visto os estudantes a rastejar com pedras, sendo portadores de objetos de praxes.
Todavia, a versão de João Gouveia foi outra. O único sobrevivente da tragédia garantiu às autoridades que não houve qualquer ritual de praxe académica na noite da tragédia. Depois de sete meses de investigação, o MP de Almada concluiu que tudo não passou de um acidente e que o grupo de sete jovens, onde se incluía João Gouveia, foi arrastado para o mar, surpreendido por uma onda de grandes dimensões, quando conviviam no areal.
A decisão judicial foi contestada pelos familiares das vítimas, que não só questionaram o arquivamento do processo, como defenderam que o mesmo apenas aduzia mais dúvidas em relação ao incidente.
Outra das incoerências apontada pelas famílias prende-se com os telemóveis. Uma análise aos documentos fornecidos pela operadora à Polícia Judiciária mostra que os telemóveis de João Gouveia e de uma das vítimas, Catarina Soares, acionaram na noite fatídica as localizações da Costa da Caparica e de Oeiras norte, em vez do Meco. Perante estes dados, as famílias acreditam que João Gouveia poderá ter fugido da praia e regressado, mais tarde, para simular uma situação de pré-afogamento.
Segundo o advogado das famílias das vítimas quer a PJ, quer o MP não valorizaram esta informação. Acresce, que a roupa que João Gouveia usava na noite fatídica foi entregue à Polícia Judiciária três meses depois da tragédia, ainda molhada. Uma situação que intrigou os familiares das vítimas. «Qualquer pessoa normal, sem estar nas lides da investigação criminal percebe que ao fim de três meses não há roupa nenhuma que se mantenha molhada», questionaram .
O que aconteceu afinal naquela madrugada de 15 de dezembro? Por que estavam os jovens estudantes trajados no areal do Meco? Por que deixaram os telemóveis em casa? São estas questões que as famílias gostavam de ver respondidas.
Se o despacho do MP não conseguiu provar nenhuma das suspeitas, também é certo que não apresentou explicações cabais sobre o incidente. Os pais exigem respostas da Justiça e, por isso, apresentaram um pedido de abertura de instrução. O processo foi reaberto a 15 de outubro e João Gouveia constituído arguido.
Agora as famílias aguardam pelo apuramento da verdade e que finalmente seja feita justiça.