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Narrativa Diária

Não escrever um romance na «horizontal», com a narrativa de peripécias que entretêm. Escrevê-lo na «vertical», com a vivência intensa do que se sente e perturba. Vergílio Ferreira

Narrativa Diária

Ter | 04.02.14

Um país surreal: os quadros de Miró

O governo preparava-se para leiloar a coleção de 85 quadros Joan Miró, na posse do Estado desde a nacionalização do BPN, através da leiloeira Christie's, em Londres, sendo a sua base de licitação de 35,9 milhões de euros, a fim de “aliviar” a situação económica do país.

A decisão do executivo não foi pacífica, suscitando um coro de indignação, primeiro nas redes sociais, através de uma petição que teve como objetivo, segundo os promotores, impedir uma venda que consideravam «danosa e irreversível» para o país, que depois passou para a imprensa e posteriormente  transferiu-se para a "arena política".

Alguns deputados do PS interpuseram uma providência cautelar reforçada por uma outra interposta pelo Ministério Público, indeferida há momentos pelo Tribunal Administrativo da Comarca de Lisboa.

Entretanto, horas antes do leilão, a leiloeira decidiu cancelar a venda das obras do pintor catalão, alegando recear que as dúvidas legais geradas à volta da coleção de Miró pudessem, de algum modo, colocar em causa a segurança do leilão e toda a polémica gerada afastasse potenciais compradores.

Num país decente que valorizasse devidamente a cultura, esta coleção permaneceria como património do Estado e seria exibida com garbo. Mas, infelizmente, esta gente que dirige os destinos do país só vê euros, independentemente da sua proveniência, pouco se importando com os cidadãos contribuintes que pagaram e ainda pagam a pesada fatura do BPN e que merecem um país civilizado e respirável.

Estamos mais uma vez em presença de um caso de imaturidade, de insensibilidade, de ignorância e de “falta de mundo” de quem nos governa.