Vicente Jorge Silva (1945-2020)
Morreu Vicente Jorge Silva, aos 74 anos. Jornalista de profissão e cineasta por paixão, fez durante vários anos parte da direção do Expresso, onde foi responsável pelo lançamento da "Revista". Em 1990 ajudou a fundar o jornal Público, tendo sido o primeiro diretor, cargo que manteve até 1996.
Além de jornalista e cineasta foi deputado pelo Partido Socialista, eleito pelo círculo eleitoral de Lisboa, função que mais tarde confessou não ter gostado de desempenhar.
Foi uma personalidade marcante que mudou o panorama da comunicação social portuguesa. Ao criar o Público, estabeleceu um novo paradigma para os media em Portugal. Pode dizer-se que há um jornalismo antes e depois do Público. Na vertente empresarial, na exposição de conteúdos e na relação com os leitores, o Público criou um novo patamar de qualidade e exigência com uma marca que ainda hoje, apesar de tudo, mantém. A revolução que o Público provocou nos media em Portugal foi um legado que perdurará para sempre.
Homem contundente e caustico, espírito livre, nunca se coibiu de dizer o que pensava. Foi dele a expressão «Geração Rasca» nos idos 90, num editorial que assinou aquando das manifestações estudantis contra o aumento das propinas no governo de Cavaco Silva, sendo então ministro da Educação Couto dos Santos. Os estudantes saiam à rua e gritavam alguns slogans, como: «não pagamos».
A expressão “geração rasca” não agradou ao movimento estudantil contestatário que adotou a expressão modificando-a para “geração à rasca”.
Anos mais tarde, em março de 2011, a expressão foi aproveitada para dar nome a uma outra série de contestações reivindicativas de jovens na procura de melhores condições do trabalho, em especial do fim da precariedade do emprego, nos anos da Troika.
Como realizador de cinema foi autor de “O Limite e as Horas” (1961), “O Discurso do Poder” (1976), “Vicente Fotógrafo” (1978), “Bicicleta – Ou o Tempo Que a Terra Esqueceu” (1979) e “A Ilha de Colombo (1997)”. Porto Santo (1997), seu último trabalho no cinema, foi exibido no Festival Internacional de Genebra.
Foram vários o colegas de profissão e não só, que fizeram questão de deixar sentidas homenagens a VJS. Também Marcelo Rebelo de Sousa que trabalhou com ele no Expresso deixou uma carta aberta, publicada no jornal Público.